Faz um século que o ser humano inventou uma máquina que o dotou com uma eficiência ainda maior: a: Bicicleta. Tratava-se de uma novidade, inventada à base de materiais novos, impensados nos tempos do jovem Marx e combinados em uma tecnologia engenhosa.
O uso da bicicleta tornou possível que o movimento do corpo humano ultrapassasse uma última barreira. Ela lhe permite aproveitar a energia metabólica disponível e acelerar a locomoção até seu limite teórico. Em terreno plano, o ciclista é três ou quatro vezes mais veloz que o pedestre, gastando ao todo cinco vezes menos calorias por quilômetro que este.
O deslocamento de um grama de seu corpo sobre essa distância não lhe consome mais do que 0,15 caloria. Com a bicicleta, o ser humano ultrapassa o rendimento possível de qualquer máquina e de qualquer animal evoluído.
Além disso, a bicicleta não ocupa muito espaço. Para que 40 mil pessoas possam cruzar uma ponte em uma hora movendo-se a
Há uma diferença enorme entre o espaço que ocupa o veículo potencialmente rápido e a bicicleta não apenas ao se moverem, -64 Apocalipse Motorizado- 1. Este texto foi escrito no início da década de 1970, durante a Guerra do Vietnã.
Onde se estaciona um carro cabem 18 bicicletas. Para sair do estacionamento de um estádio, 10 mil pessoas em bicicletas necessitam da terça parte do tempo que necessita o mesmo número que pega ônibus. Dotado de bicicleta, o ser humano pode cobrir uma distância anual superior, dedicando a ela, ao todo, menos tempo e exigindo menos espaço para percorrê-la e muito pouco investimento de energia física que não seja parte do seu próprio ciclo vital.
Além disso, as bicicletas custam pouco. Com uma fração das horas de trabalho necessárias ao gringo para comprar seu carro, o chinês, ganhando um salário muito menor, compra sua bicicleta, que dura toda a vida, ao passo que o carro, quanto mais barato, mais rapidamente será necessário trocá-lo. O mesmo se pode dizer a respeito das estradas. Para que um maior número de cidadãos possa chegar às suas casas de carro, mais o território nacional é corroído. Inevitavelmente o carro está ligado à estrada.
Diferentemente da bicicleta. Onde não pode ir montado nela, o ciclista a empurra. O raio diário de trajetos aumenta para todos igualmente, sem que por isso diminua para o ciclista a intensidade do acesso. O ser humano com bicicleta se converte em dono dos seus próprios movimentos, sem estorvar o vizinho.
Se existe alguém que ache que em matéria de circulação é possível conseguir algo melhor, essa é a hora de provar. A bicicleta é uma invenção da mesma geração que criou o veículo a motor, porém as duas invenções são símbolos de avanços feitos em direções opostas pelo homem moderno.
A bicicleta permite a cada um controlar o gasto da sua própria energia. O veículo a motor inevitavelmente torna os usuários rivais entre si pela energia, pelo espaço e pelo tempo. No Vietnã, um exército hiperindustrializado não pôde derrotar um povo que se desloca à velocidade da bicicleta.
Isso deveria nos fazer refletir: talvez a segunda forma de emprego da técnica seja superior à primeira. Naturalmente, resta ver se os vietnamitas do Norte estão dispostos a permanecer dentro desse limite de velocidade, que é o único capaz de respeitar os próprios valores que tornaram sua vitória possível.
Até este momento,-1 os bombardeiros americanos os privaram Ned Ludd (org.) 65- de gasolina, de motores, de estradas e os obrigaram a empregar uma técnica também moderna, muito mais eficaz, eqüitativa e autônoma. Lembrando, do que Marx poderia ter imaginado. Resta ver se agora, em nome de Marx, não se lançam a uma industrialização, quantitativamente tão superior à que Marx pôde prever, que torne impossível a aplicação dos ideais que ele formulou. – Marcão, Abraços aos citados, meus filhos! . . .
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