Fomos Candidatos!

Caros Amigos: Recebi o artigo “Fomos candidatos” do meu amigo de Campanha -nestas Eleições de 2008-, e de pensamentos políticos, voltados a uma democracia plena e por dever de ofício faço a sua postagem.

Olá Marcos Ferrari, Envio o artigo de Dr. Roberto, Atenciosamente, Simone Jardim
Secretária.


Fomos candidatos

Roberto Ferrari de Ulhôa Cintra

Quando decidimos, o médico Ailton Ferreira e eu, sairmos candidatos a Prefeito e a Vice-Prefeito de Cotia, pelo Partido Verde, sabíamos que enfrentaríamos forças reacionárias fantásticas, infensas a qualquer mudança na administração da cidade. A primeira das forças foi representada pelo continuismo: o atual prefeito depois de 8 anos de sua administração pretendeu eleger o seu sucessor a qualquer preço. Conseguiu assim uma coalisão de 16 partidos com seus respectivos candidatos a vereador, totalizando 112 competidores que funcionam como poderosos cabos eleitorais diferenciados a contribuir para a eleição do majoritário. Sabendo-se que o candidato a Prefeito, conforme o convenciado, suporta a campanha do seu vereador desde a gasolina, passando pelos santinhos e pela manutenção dos comitês, não será esta simples presença de 16 partidos em uma única coligação o indício veemente do abuso do poder econômico? Uma segunda força apresentou-se à candidatura, trata-se de um velho profissional da política local que foi impugnado pela justiça eleitoral de primeira e segunda instância. Quando se entra no site do TSE Tribunal Superior Eleitoral, e foca-se Cotia, lê-se a respeito desse candidato: “apto indeferido com recurso”. Seu vice-prefeito aparece com o mesmo dístico. Não se sabe, no entanto, pela leitura do site, se o vice simplesmente acompanha o prefeito naquela impugnação ou se também ele tem culpa no cartório.

Este conflito entre aptidão de ser candidato e a sua impugnação é incompreensível para a própria população que não percebe a sutileza dessa filigrana jurídica exagerada. Assim, o candidato impugnado em virtude da existência prévia de crimes eleitorais em outros mandatos, seguiu sua campanha esperando pelo bingo do TSE, que é até onde corre seu processo, no curso fantástico de 90 dias. Essa insegurança jurídica em nada beneficia o processo eleitoral e prejudica-se, dessa maneira, a contenda ideal. Briga-se com um morto-vivo, um fantasma que parece tirar suas forças dessa situação surrealista que, no entanto, avançou com uma coligação de dois partidos e vinte e dois candidatos a vereador. Tal coligação corre ainda o risco de desapontar a todos com a impugnação definitiva dos cabeças-de-chapa tornando os candidatos a vereador da coligação meros aventureiros eleitorais sem patrono nem bandeira.

Uma terceira candidatura apresentou-se: trata-se da dupla Tagarela e Jabá. Sim, esses são os nomes a serem mostrados na urna eletrônica. O que parece ser um escárnio à população é, na verdade, uma candidatura a prefeito e vice de líderes populares, figuras folclóricas, famosos por suas estripulias, que somam uma coligação de 4 partidos com 36 candidatos a vereador. São populares e não representaram nada mais do que isso: uma candidatura destituída de programa.

Uma quarta candidatura apresentou-se: o representante do PSOL, um partido ainda nanico mas que busca o eleitorado que outrora pertencera ao PT, mas que ainda tem baixa densidade eleitoral.

Finalmente, a nossa campanha: Ailton Ferreira e Ulhôa Cintra, um médico e um advogado, através de um partido único, o Partido Verde, partido que representa uma promessa em todo o mundo e que vai se cristalizando no Brasil como uma força em defesa do meio ambiente, com seus 43 pontos de sua sólida base programática.

Como, no entanto, um partido único pôde enfrentar com uma equipe única de vereadores (14 candidatos) o poder econômico representado pela situação? Como enfrentou, esse partido único, um candidato que é mais ou menos um fantasma, um meio candidato, não propriamente um candidato? E foi capaz, no frigir dos ovos, esse partido único, o Partido Verde, de enfrentar os candidatos populares representando eles não mais que a descaracterização da política de temas e idéias?

O nosso caso, o caso de Cotia, longe de ser uma peculiaridade no Brasil, é o Brasil. Cotia tem uma população de 200.000 habitantes e perto de 125.000 eleitores. Não temos, portanto, segundo turno eleitoral, o que é privilégio das cidades com mais de 200.000 eleitores. Desta maneira, basta o candidato ser o mais votado entre os cinco candidatos da cidade, que será eleito. O que ocorreu foi que o eleito em Cotia não teve mais do que 30% dos votos do eleitorado, representando, portanto, uma parte menor dos eleitores.

E assim segue a democracia no Brasil. Jovem e incipiente. Onde proliferam os partidos de aluguel, o poder econômico e o popularismo.

Penso que basta para a democracia a existência de 5 partidos cobrindo todo o espectro ideológico, desde a extrema-esquerda à extrema-direita, passando pelo centro-esquerda, centro e centro-direita. Talvez, mais um ou dois partidos que fujam da ideologia tradicional, tais como os Verdes. Acredito, entretanto, que seria muito útil à democracia o candidato independente, não vinculado a qualquer partido político. Penso que o candidato independente seja a fórmula mágica de se acabar com os partidos de aluguel.

Mas, em busca da democracia ideal, quando é que as idéias combaterão as idéias? e que o poder financeiro estará definitivamente alijado da campanha eleitoral? E que o ficha limpa seja fruto de um passado limpo e não de um expediente jurídico-processual de última hora? E o candidato seja cotejado com o outro apenas pelo seu passado, suas próprias idéias e seus sonhos?

Roberto Ferrari de Ulhôa Cintra é advogado.
Doutor em Direito pela USP. Especialista em Administração de Instituições Financeiras pelo Programa de Assistência Técnica do Fundo de Desenvolvimento do Mercado de Capitais (PAT – FUMCAP), curso administrado pelo IBMEC e pela New York University. Foi, ainda, candidato à Vice-Prefeito em Cotia, na chapa do Partido Verde.
Email: ulhoa@yahoo.com.br